domingo, 27 de agosto de 2017

Vida comunitária: um desafio diário vivido por missionários

Apesar das diferenças, parece que a maioria tem mais pontos positivos do que negativos para contar

Por Larissa Mazaloti, Viviane Nery, Caleb Walace / GNI Brasil


 Em muitas culturas ao redor do mundo, a vida em comunidade é parte principal da característica da população. Mas especialmente no ocidente, essa não é a opção mais desejada pelas pessoas. No sul do Brasil por exemplo, o individualismo e a independência são elementos do cotidiano, principalmente dos grandes centros e de suas regiões metropolitanas.
Treinamentos atraem jovens para
a vida em comunidade
 (Foto: CM Jocum/Facebook)

 Em Almirante Tamandaré, cidade localizada há pelo menos 20 minutos do centro de Curitiba, capital do Paraná, há um local onde a realidade é outra. Uma das bases de trabalho da organização missionária Jocum(Jovens Com Uma Missão) tem atraído jovens dos mais variados estados brasileiros para participarem de treinamentos de até seis meses em regime de internato, dispostos a enfrentar diferenças climáticas e culturais.


  O carioca Yohan conta que viveu um choque cultural porque no Rio de Janeiro as pessoas são mais abertas. “No Rio dá para chegar em qualquer pessoa zoando. Aqui o pessoal é educado, mas é fechado”, observa. Ele também fala que só nos últimos dois dias foi possível usar seu par de chinelos. Segundo ele, a diferença de temperatura do Rio de Janeiro para o Paraná é grande. Já Moisés, de Fortaleza (CE) conta que para conviver com pessoas tão diferentes é preciso renunciar muitas coisas. “Vivência em comunidade é um bagulho sério, mano”, brinca sobre a intimidade. Para o Bahiano Raniel, o mais brincalhão dos três, uma das dificuldades é a saudade de casa. “A convivência as vezes dói”, revela e afirma que isso está moldando o caráter dele.

 Algo que não falta quando pessoas estão reunidas é comida. Para isso a Jocum Almirante Tamandaré terceiriza o serviço de cozinha e com isso, ao trabalhar nesse setor, pessoas de fora, acostumadas com suas rotinas comuns em suas casas com suas famílias também estão mudando suas opiniões sobre viver de forma comunitária. É o caso de Lucas, o único homem da cozinha e afirma que já enfrentou preconceito por isso. Apesar de ser cozinheiro gastronômico, depois de enfrentar uma situação difícil aceitou a vaga de auxiliar e demonstra estar muito satisfeito com o trabalho. “Depois que eu entendi o tipo de vida deles e passei a ter também um vínculo com Deus como eles, minha vida mudou profissionalmente e na família”, afirma.  Darci, que veio do Pará e já viveu a experiência de uma escola de treinamento da Jocum diz que da cozinha consegue aconselhar os mais jovens por causa da experiência que ela teve em comunidade. Teresa é auxiliar eventual nos finais de semana. Mesmo com menos contato ela garante que a vida dela é outra, que ela tem aprendido muito. A equipe da cozinha destaca que a vida espiritual deu um salto quando se depararam dentro de um estilo tão diferente de vida.

Pessoas de diferentes locais
do Brasil vivem
como família
(Foto:Reprodução Facebook)
 Voluntários, homens e mulheres de várias idades que já passaram por escolas e hoje trabalham integralmente na organização, inclusive morando na base missionária chegam a dividir moradia com até outras oito pessoas. É o caso de Camila, que veio da Bahia. Quando conversamos com ela, estava desenformando um bolo recém-saído do forno, e contou que com tantas mulheres há uma disputa de espelho e banheiro, mas que é divertido estar junto. Ana Paula, do Amazonas e Larissa, de São Paulo moram com mais uma colega e relatam que as situações do dia a dia desafiam o comodismo, e até mesmo a culinária de cada uma, mas segundo elas, isso vale a pena. “Aprendemos uma com a outra”, afirma Larissa. Elas não escondem a amizade e o clima de bom humor entre elas na casa. “No começo era esquisito, tivemos que adaptar, principalmente na cozinha”, diz Ana Paula.

 Até mesmo quem não está acostumado a uma convivência tão intensa, ao experimentar isso por alguns dias chega até a pensar em viver dessa maneira. É isso que está acontecendo com Viviane, que veio da Bahia para um final de semana na Jocum. Ao participar do workshop GNI e Jornalismo, ela diz que apesar de conviver com pessoas, o fato de uma reunião tão grande de jovens é o diferencial. “Toparia viver uma vida assim. Acho muito interessante, apesar de saber que com marido e filhos seria uma mudança radical”, analisa Viviane.

 A Jocum está espalhada em mais de 180 países, cada base, apesar de manter o DNA da organização pode ser encontrada com diferentes características de acordo com a cultura local ou que predomina lá. Mas algo que não muda é esse convite a uma vida comunitária que pode gerar muita reflexão antropológica, afinal, como costuma refletir uma das líderes pioneiras de Jocum, Maria Helena: “o ser humano é sem fim e sem explicação”.


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