
Mudar o mundo nunca foi um sonho
que escondi das pessoas que conviveram e convivem comigo. Tentei vários
caminhos, sonhei com utopias socialistas, acreditei na humanidade e acabei em
uma confusão enorme onde eu já não me encontrava mais, me perdi dos meus sonhos,
optei claramente por fugas de todos os tipos e enfim, quando de por mim
Jesus estava me juntando do chão com uma mão e com a outra segurando os cacos
todos espalhados.
Agora, há dois anos lendo a
bíblia e literaturas baseadas nela eu não tenho dúvidas de que a única maneira
de colocar uma pecinha que seja no velho sonho de mudar o mundo é através dela.
A Palavra de Deus e o Cristianismo, como diz Landa Cope, autora do livro Modelo
Social do Antigo Testamento, são as únicas alternativas para uma explicação a
respeito do universo que vivemos, dos aspectos bons e dos ruins. Mas obviamente
isso se trata de fé, o que é absolutamente pessoal.
A Jocum, ONG da qual faço parte
como voluntária em tempo integral, na qual moro, tem como objetivo entender o
chamado de Deus para conhecê-lo e fazê-lo conhecido, não apenas em meios
considerados evangélicos, mas em áreas de influência da sociedade. Essa é uma
visão interessante, que está no livro Modelo Social do antigo Testamento, no
qual tenho buscado compreender melhor a Palavra de Deus para governo, economia,
ciência, igreja, família, educação, comunicação e artes e entretenimento.
É o tipo de livro que desperta
vários tipos de sentimentos, mas de forma resumida os dois extremos são:
entusiasmo e frustração.
Explico os dois.
O entusiasmo é resultado da
esperança que a Palavra de Deus produz. A bíblia trata de todas as áreas da
vida de um ser humano de forma individual e também em comunidade. As áreas que
citei acima, se vivenciadas com o que está escrito se aproximarão muito de um
tipo de vida ideal, de mais igualdade, de qualidade de vida. Portanto, em meio
ao caos, cristãos e até não cristãos reconhecem a sabedoria que há nos princípios
estabelecidos.
A frustração vem da grande
dificuldade que encontramos quando colocamos nossa natureza diante desses
princípios e descobrimos que ela é totalmente contrária a qualquer coisa que
esteja escrita na bíblia. Embora conheçamos a verdade é necessário empenhar
esforços, não pela salvação, que é a boa nova e o prato principal de todo o
evangelho, porque essa vem de Deus, pela fé, não pelo que fazemos. Mas quando
descobrimos que existe um jeito de fazer o certo, sabendo que nossa tendência é
o errado, entramos em uma luta que depende sim de nossa decisão e disposição.
Podemos estar salvos, porém, pelas escolhas erradas e falta de disposição, se
arrastar por uma vida inteira.
Diante do entusiasmo e da
frustração é inevitável perguntar: como fazer alguma coisa a respeito disso?
Conversava com alguns amigos
missionários aqui na Jocum e nosso debate era como podemos influenciar pessoas
e áreas da sociedade estando na missão, ou, mesmo se deixarmos a missão para
trabalhar em alguma das áreas? Tive uma aula sobre a pessoa de Jesus e o
preletor Salomão Cutrim, que é líder da
base que estou disse que tudo no Reino de Deus é intencional, que Jesus era
intencional em suas atitudes e palavras. Mas somado a isso, nós cristãos
acreditamos que o Espírito Santo é quem age através de nós. E uma das coisas
que chegamos a conclusão na conversa entre amigos, é que como cristãos, se
buscamos viver genuinamente o evangelho
tal qual ele é, naturalmente tudo o que fizermos - desde o bom dia que damos
todos os dias na padaria, no mercado, no banco, na rua, até uma ação de
evangelismo – vai influenciar pessoas, porque é intencional de nossa parte
querer fazer Jesus conhecido e há a ação do Espírito Santo. Portanto, o ponto
der partida para uma pequena ou grande influência é basicamente a minha relação
com Deus e sua Palavra.
Em nossa conversa falamos sobre o
que esperamos quando pensamos em “ganhar alguém para Jesus”, expressão que
significa que a pessoa ouviu sobre o evangelho e aceitou o que ouviu. Muitos
entendem que quando alguém aceita Jesus, confessa o nome Dele como Deus e
salvador a tarefa foi cumprida, outros entendem que é necessário uma caminhada
longa junto com a pessoa até que ela aceite Jesus e mais uma longa caminhada
depois, quando essa pessoa aceitou e começa a se deparar com uma série de
transformações radicais. É o que Jesus chama de discipulado. Nisso, gostaria de
compartilhar uma meditação em Atos 9, em que Deus revelou para mim o entendimento do
chamado cristão para ser Ananias e Barnabé.
Quando o judeu perseguidor de
cristãos Saulo, que depois seria Paulo, teve uma experiência com Jesus Cristo, a
bíblia contas que a luz que ele enxergou foi tão forte que o cegou. Ele foi
levado cego para uma casa e muito assustado, porém convicto de que Jesus havia
falado com ele. Enquanto isso Ananias, um discípulo recebeu de Deus uma visão
que o mandava ir até Saulo e orar para que ele voltasse a enxergar. Ananias sabia
muito bem que era Saulo e demonstrou desconfiança quanto a cumprir essa tarefa
mas foi assegurado por Deus que isso daria certo e que Saulo não mais era a
mesma pessoa. Ananias ouviu Deus, superou seu medo de enfrentar o temido Saulo,
confiou, obedeceu e foi. Ao orar por Saulo a cegueira foi curada. Eu, que hoje
luto todos os dias para ser uma seguidora de Jesus devo me posicionar como Ananias,
sendo quem após a experiência de alguém com Jesus abra os olhos dessa pessoa,
seja eu quem, por já conhecer quem é Deus possibilite que a pessoa possa ver a
verdade. Muitas vezes pode ser alguém considerado impossível de mudar de vida,
ou mesmo a transformação de um lugar de trabalho, de estudo que pareça uma
utopia. Se Deus garantir que quer que eu faça isso, eu preciso ir. Depois
quando os discípulos desacreditavam que Paulo pudesse mesmo ter mudado e agora estivesse
do lado dos cristãos, foi um homem chamado Barnabé quem “tomou Paulo consigo” e
inseriu Paulo entre os demais, garantindo a experiência que Paulo teve,
acreditando nele. Imagino Barnabé encorajando Paulo, e conversando com os
discípulos sobre a verdadeira conversão. Tudo isso porque Barnabé entendia pelo
Espírito essa garantia sobre Paulo. Eu preciso também ser esse ponto de apoio
de pessoas desacreditadas, pessoas cujo nível de confiança perante os demais
seja zero.
Cada cristão um dia foi Saulo que
se tornou Paulo e por isso tem um compromisso pessoal com Jesus de ser o que os
Ananias e Barnabés foram em sua vida. Eu precisei se alguém que me conduzisse e
precisei mais ainda de alguém que mesmo diante do meu passado e dos meus erros
ainda confiasse e continue confiando em mim, porque Deus diz a essas pessoas
que Ele tem um objetivo comigo.
Eu posso influenciar sem muito
conhecimento, sem dinheiro, sem escolaridade, sem um nome conhecido, sem um
púlpito. Mas não posso influenciar sem a intimidade com Deus que gera o amor
que torna possível fazer a única coisa que importa fazer: tornar a Verdade
conhecida.