Para ouvir enquanto lê: VOZ
Quando eu digo que a frase
surgiu, quero dizer que foi como o ressoar de uma orientação, um encorajamento,
foi um voto de confiança de alguém que poderia me assegurar que algo daria
certo. Essa sensação foi confirmada quando encontrei o trecho na bíblia, no
livro que se chama Eclesiastes, no capítulo 11, no primeiro verso. Isso porque
a sequência do texto dizia: “que depois de muitos dias o achará”.
Vamos então à frase inteira: “Lança
o teu pão sobre as águas, que depois de muitos dias o achará”. Se o pão hoje é
algo essencial em nossas mesas, na época do Antigo Testamento e depois, na
época de Jesus, o pão era muitas vezes tudo o que eles tinham. Não por acaso a
oração mais conhecida e aceita em diferentes religiões diz: “dai-nos o pão
nosso de cada dia”. Sendo assim, penso que dizer a alguém daquela época: “lança
o teu pão sobre as águas” é no mínimo muito corajoso da parte de quem pede.
Como assim, o meu pão???
Mais entendidos de teologia
talvez tenham a expressão exata do que o autor de Eclesiastes quis
dizer. Mas, dentro de mim, o que ficou muito claro é o fator de risco que
devemos assumir em nossas vidas. Posso trazer o “meu pão” para o que eu tenho
de mais valor, o que é mais essencial para mim. E pra ser mais específica e
profunda no que minha compreensão chegou, é que não tem nada a ver com valores
materiais. Mas tem a ver com algo de precioso no meu ser, do qual preciso
lançar mão, ou seja, abrir mão.
Arriscar é naturalmente fazer
algo sem garantia de acerto. Por isso é que resistimos tanto em caminhar por
estradas desconhecidas, ou mesmo nos imaginar sem alguma coisa da qual
imaginamos que precisamos muito. Mas a bíblia, a qual acredito conter
integralmente aquilo que Deus pensa, diz que eu posso abrir mão de qualquer
coisa sem medo, porque haverá um retorno positivo.
Há uma versão da bíblia de Eugene
H. Petterson que diz sobre esse texto que o “pão sobre as águas” é não
economizar em misericórdia, e ainda garante que a misericórdia é um
investimento que trará bons rendimentos. Não se trata de uma troca que fazemos,
se trata de uma promessa que recebemos, a certeza de que podemos confiar no
cuidado de Deus, o qual na coletividade acredito ser soberano sobre toda a
criação e na individualidade Pai de cada pessoa.
O resumo do livro Eclesiastes é
de que a vida é muito curta e de que todas as coisas são apenas vaidade. Por
isso essa orientação para que possamos abrir mão de coisas, que mesmo muito
tempo depois entenderemos que não nos arrependeremos de termos lançado. Que
vivamos o risco de amar, o risco de se entregar, o risco de abandonar a justiça
própria, o risco de assumir que somos amados, mesmo que sejamos muito
imperfeitos, o risco de crer no invisível: o risco da fé.
Ah, para os desavisados, a frase
que surgiu em minha mente é o que os cristãos mais doidos dizem ser “ouvir a
voz de Deus”, ou... “Deus falou comigo”.
Referências: Eclesiastes 11:1 (Almeida Revista e Atualizada e A Mensagem)