segunda-feira, 26 de setembro de 2016

“Vó, me diz aí uma palavra, vou escrever um texto”

Quando eu era pequena, na minha fria Palmas, no sudoeste do Paraná, passava bastante tempo na casa de minha avó Jeanette. Fui filha única por quase onze anos e por isso inventei muita brincadeira sozinha, histórias criadas, times imaginários para jogar bola e lembro perfeitamente de uma das coisas que eu mais gostava de fazer. Sentava em um pequeno banquinho com assento de couro, daqueles que tem até uns pelinhos do animal de tão rústico, e usava um outro banco, um pouco maior, de madeira, como mesa. Assim eu pedia para minha avó: “Vó, me fala uma palavra ou um tema”, e a partir dali saía um texto, uma história, uma poesia. Mais tarde, lembro de ter escrito um texto sobre o Parque da Gruta que ficava no centro da cidade e tinha uma cachoeira poluída pelos moradores. Fiquei tão indignada que escrevi e minha mão me levou até um jornal local e eles publicaram meu texto. Participei de concursos de redação e poesia. Sempre conseguia premiação. Mais tarde ainda, aos 16, preste a fazer vestibular fui até um jornal que estava bombando na época.  E ali tive meu primeiro emprego no jornalismo, sedenta por escrever, por comunicar, por relatar. Eu queria formar opiniões, e sim, queria mudar o mundo. Me graduei em jornalismo em 2007, trabalhei em outros jornais locais, em rádio, em assessoria de imprensa e nunca parei de querer mudar o mundo.

Eu não consegui mudar o mundo, embora tenha me mudado de lugar, de valores, e claro, aprendido bastante sobre fazer o certo e o errado. Escolhi o errado na maioria das vezes.
Mas na semana passada cresceu em mim a esperança de quem sabe conseguir mudar pelo menos uma parte do mundo.


Quando eu soube que haveria na comunidade missionária na qual eu vivo um evento em que a bíblia seria traduzida e precisaria de pessoas habilitadas na língua portuguesa para revisar eu logo me animei e já me escalei para fazer parte disso. Era a hora de eu colocar minhas manguinhas de fora, fazer correções, debater vírgulas e concordâncias...uau! Minha área...que bom poder estar envolvida com isso. No primeiro dia da programação passamos por avaliações simples em português, inglês, bíblia e informática. Mas eu sabia que estaria na revisão... isso era lógico, por que não fosse isso, o que mais eu poderia fazer ali? Traduzir textos da bíblia em inglês? Nem pensar... passaria vergonha.
Acontece que não sei como fui na avaliação de português, mas sei que a de inglês fez com que os MEUS planos mudassem e eu de repente, estivesse na mesa do nível 1 do MAST (Mobilização, Assistência e suporte à Tradução). E o que faziam nesse nível? Tradução.
Meu coração acelerou e ninguém a não ser Jesus sabia como eu estava por dentro. Fui destronada de minha zona de conforto. Agora ao invés de corrigir, eu seria corrigida. E mais, corrigida não só no português, mas no meu rasinho inglês escolar.  Estava exposta, do jeito que Papai gosta, pronta para ser provada no fogo, moldada como barro na olaria. A humildade tantas vezes negligenciada agora estava ali, pronta para entrar em cena.
Então eu entendi que Deus já conhece bem minhas habilidades e não precisa se impressionar com elas. Mas o que o deixa feliz mesmo é me ver aceitar o nível HARD. Entendi também que agora sou jornalista das boas novas, mensageira de uma nova e viva história, a única que pode me dar a chance de ver o mundo mudar. Através da tradução do MAST, povos de idiomas que tem como portal a Língua Portuguesa, mas que ainda não tem bíblias em sua língua mãe, dialetos ou outra forma de comunicação, agora poderão ter livre acesso a esse material para fazer as próprias traduções.
E não bastasse isso, agora Deus chegou com um novo desafio para o mês de novembro: um tal de Uniskript. Um sistema para criar alfabeto para povos ágrafos, mas para beneficiar pessoas que tem dislexia, por exemplo, ou mesmo para ensinar alguém um novo idioma. Comprovadamente esse sistema alfabetiza comunidades inteiras em apenas duas semanas, mudando sua qualidade de vida, seu acesso, seu conhecimento, sua comunicação. Comunicação! Que palavra linda!

“Vó, me diz aí uma palavra, vou escrever um texto”.

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