A humanidade está cheia de
anseios. Vozes interiores gritam, pedem coisas, expressam necessidades.
Caminhamos todos os dias carregados de necessidades íntimas, cujo tempo em que
vivemos não é propício, pois individualmente cada um tem uma máscara e tudo bem,
vamos seguindo. Estranhos até mesmo aos mais íntimos, preferimos o isolamento
ao risco de expormos a nossa necessidade e privamos o outro também, de se doar,
de doar o que tem.
Durante uma semana que estive no
Rio de Janeiro vivi uma experiência fantástica nas ruas da comunidade
Terreirão, no bairro Recreio dos Bandeirantes. Criei coragem para participar de
uma intervenção maluca em que penduramos uma plaquinha no pescoço com pedidos
como: “me conte sua história”, “me mostre uma dança”, “me dê alguma coisa”, “me
molhe”, “me pinte”, “me elogie”. Entre essas, no primeiro dia eu escolhi estar
com uma corda me amarrando e a plaquinha escrita “me solte”.

No segundo dia, com a
oportunidade de vivenciar outra experiência, escolhi a plaquinha com a frase “me escute”. No caminho até o local da
intervenção eu fui tomada por um pavor absurdo, me questionando o porquê eu
escolhi isso e o que eu iria fazer, o que falar para quem topasse me escutar.
Chegando lá eu vi que precisaria tomar uma atitude pró-ativa, indo até as
pessoas. Comecei me apresentando e dizendo o por que estávamos ali e logo consegui
encontrar situações para falar da falta de diálogo entre as pessoas, sobre a
pressa e as preocupações do dia a dia, bem como incluir as pessoas como
participantes do meu desafio do dia, de ser ouvida.
Naquela noite eu ouvi de um homem
muito sábio algo que fez todo o sentido. Ele disse que cada um pegou a
plaquinha, não apenas pelo efeito que faria nas pessoas, mas porque cada pedido
refletia um desejo pessoal e íntimo. Claro! É assim que as coisas funcionam: de
dentro para fora. Primeiro acontece em mim e depois no outro.
Quando eu expressei o pedido de
ME SOLTE, embora hoje eu experimente uma liberdade inédita nos meus trinta anos
de vida, no momento em que me dei conta do que me levou a escolher o pedido eu
percebi o quanto há de mim que ainda precisa vivenciar o que é ser livre de
verdade. Talvez uma profunda timidez que em prendido minha criatividade e tem
enclausurado dons, até mesmo artísticos. Porque se habita em mim um desejo pela
arte, há algo que precisa ser solto. E há anos que eu tenho convivido com um
tipo de frustração nessa área. Do que estou me escondendo, afinal?
Já quando resolvi expressar a
vontade de ser ouvida descobri, não somente a falta de pessoas disponíveis e
dispostas a me ouvir, mas a grande necessidade e aprender virtude do silêncio,
a habilidade de calar, a sabedoria de falar. Ao pedir para ser ouvida eu me
deparei com a minha desordem interior, com uma multidão de pensamentos – e muitos
deles coerentes e importantes – mas que talvez não devam ser falados – ainda ou
nunca. Ao contrário das minhas frustrações que me escondem, comunicar é algo
que me expõe demais. Para quem quero aparecer? Por que quero mostrar?
E ao final, o homem sábio também
me disse: você não precisa convencer sobre quem quer ser, você já está se
tornando essa pessoa.
Linda reflexão, Lari. Parabéns pelo trabalho!
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