Hoje eu olho para muitas
fotografias minhas da adolescência e percebo que nas épocas em que eu me achava
terrivelmente gorda eu nem era. Posso até dizer que falar que passei a vida
toda sendo gordinha não é verdade. Tive fases de realmente passar do peso “recomendado”,
mas nada tão horrível quanto eu pensava que era.
Essa semana eu vi um vídeo
compartilhado no facebook onde adultos e crianças – homens e mulheres
respondiam a uma única pergunta: “O que você mudaria no seu corpo?”.
Há uns três anos eu tive a
oportunidade não só de responder, mas de tornar real a minha resposta a esta
pergunta. Fiz uma bariátrica e uma abdominoplastia. Eu estava com 100 quilos e
uma barriga com mais pelancas que a minha avó com 60 e poucos anos na época e 4
filhos. Eu, que tive filho aos 20 com uma barriga daquelas me sentia na justiça
de querer mudar isso (mais ainda do que a redução de estômago) e aceitei a
proposta da minha mãezinha amada de enfrentar o processo cirúrgico.
É fato que eu engordei novamente,
mas a abdominoplastia garante uma barriga normal (e confesso razoavelmente “estética”
pelos quilos que engordei). Mas de repente com o vídeo eu me perguntei, hoje, o
que eu mudaria no meu corpo?
A nossa relação com o corpo é
talvez a coisa mais individual, aquilo que realmente fica entre a gente e o
espelho – isso para quem encara os defeitos num boa, mas há quem sofra sérios
problemas de aceitação mesmo – mas apesar desta íntima relação eu penso que quando
nos olhamos nos avaliamos como se fôssemos outra pessoa e sempre imaginamos que
uma outra pessoas acharia que estamos: vale para homens e mulheres: gordos demais,
que temos um lado do corpo maior que o outro (e pelo que parece todo mundo tem
mesmo), que somos muito brancos ou muito negros, e uns mais estranhos que se
acham meio amarelos muito peludos ou pelados, a bunda é grande ou pequena,
estamos corcundas, e aquilo, de praxe: celulites, estrias, manchas. Aí tem o
cabelo que é menos problemático por facilmente poder ser modificado.
Nos olhamos sem amor, e olhamos
como possivelmente olhamos para os outros. Pensamos muito mais no que
mudaríamos, se pudéssemos, por fora do que por dentro. Esquecemos de nos olhar
e ver o quanto somos únicos, o quanto talvez os nossos defeitinhos nos façam
especiais para quem convive conosco. Talvez estejamos enganados sobre como as
pessoas que interessam pra gente nos olham.
Outro dia minha irmã me perguntou
o que acontecia se colocasse o dedo no meu umbigo, porque ele foi refeito com a
plástica e ficou bem “estrainho” diante dos umbigos originais, e eu olhei pra
ele (o meu umbigo) e falei: não acontece nada ué – até porque ele ficou tão “estrainho”
que ficou um buraquinho, que malemal passa um cotonete, mas ao olhar para ele e
saber que mesmo não sendo o original é o meu umbiguinho, único (especialmente
por ser “estrainho”) e como antes minha barriga pelancuda era motivo de tristeza
para mim, como eu gosto dele, das estrias porque me lembram a todo momento:
poxa! Eu sou mãe, cara! As celulites que me dizem que sou uma mulher e tanto,
mesmo com celulites sim! Que mesmo gordinha de novo eu me sinto bem e quase nem
lembro disso porque eu fiz uma coisa fantástica nos últimos 6 meses (e para
sempre e mais): eu escolhi mudar tudo DENTRO de mim e não no meu corpo e isso
me ocupa 100% das preocupações. A cirurgia foi muito importante para mim e eu
sou grata por tê-la feito, mas há tantas pessoas que não estão num caso extremo
como eu estava e sofrem e gastam tempo tentando achar uma forma de mudar as vezes
o corpo todo. O que é a beleza afinal? Se falarmos o que é padrão de beleza até
dá para definir e ainda assim com ressalvas, mas a beleza? Como avaliar se “quem
ama o feio, bonito lhe parece”?
E se ainda há o argumento de que
possamos pensar que ninguém nos ama, pô, Deus nos amou a ponto de enviar seu
filho para morrer na cruz por nós e além de tudo foi Ele que nos criou tal qual
somos! Viver em descontentamento com nosso corpo é desmerecer como Deus
escolheu nos fazer. Amar nosso corpo e ver nele os detalhes da perfeição da
criação – mesmo nas imperfeições é também uma forma de adorar o Criador.
Ah, o que eu mudaria no meu
corpo, se pudesse? Queria ter umas asas assim, grandiosas, como as de uma águia.
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