Muitas coisas passam na frente da gente ao subir e descer a
barrinha de rolagem na linha do tempo do Facebook, que confesso: faz tempo, têm
mais me enchido o saco do que me alimentado de informação e me faz pensar numa
vida exclusivamente fora dele. Parece que as redes sociais fizeram o papel de
um abrir dos portões de onde os animais de instinto mais primitivo estavam se
debatendo, presos, imóveis e de repente saíram feito loucos. Esses animais de
instinto selvagem e predador somos nós tão pacificados pela hipocrisia da
sociedade, pela religiosidade que veio desde a infância. Fomos domesticados
pelos bons costumes que sempre nos garantiram não sermos excluídos, rejeitados.
Vivemos – os da minha geração e de outras passadas (as novas gerações, como do
meu filho já estão vindo diferentes) – mas crescemos engaiolando nossos
sentimentos e pensamentos. Nunca aprendemos a sinceridade. Não é culpa de
ninguém especificamente: nem sua pai, nem sua mãe, nem sua vô, nem sua vó. Acontece que a
vida real em sociedade nos exigiu sempre mentir sobre o presente que ganhamos e
não gostamos, jamais aprendemos como expressar a nossa opinião verdadeira. E
agora que estamos sozinhos em frente as telas de computadores e aparelhos
móveis sem ninguém nos olhando nos olhos nos sentimos livres para vomitar toda
nossa fúria escondida. Não sabemos nem falar o que pensamos verdadeiramente e
nem sabemos receber a verdade dos outros. Viver em sociedade estando isolados
permite que sejamos aquele ser repugnante que escondemos ser.
Eu senti de escrever sobre isso porque hoje me deparei com
um depoimento do Armandinho, cantor de um reggaezinho maneiro feito no Rio Grande
do Sul que ganhou praias do Brasil inteiro e despertou sentimentos em quem
acordou querendo ver o mar mas mora bem no meio de uma selva de pedra. Ele disse
que voltou a beber e que reconhece que o álcool o deixa agressivo e faz muito
mal a ele. Num dos sites que repercutiu a publicação dele nas redes sociais vi
comentários que me deixaram apavorada. Mas um deles, identificado como “anônimo”
resume um pouco do que eu senti ao ler os comentários:
“Pobre, triste, curta e embrutecida”, era mais
ou menos assim que o Thomas Hobbes via a humanidade. Pelos comentários acima,
vejo que ele tinha razão…
Muitos comentaram sobre possível vício dele ir além do
álcool, outros sobre a “babaquice” ou sobre ele ser um “bebê chorão” e outros
ainda desclassificando a música como um trabalho, porque ele disse,
desabafando, que a vida de artista é dura para ele.
Eu já tive problemas sérios com álcool e drogas. Nunca fiz
um apelo por ajuda sequer para Deus porque eu nem conseguia ver que estava com
problema. Não sou nada perto de ser artista, mas sou um ser humano como o
Armandinho, como o Chorão do Charlie Brown Junior que morreu por overdose de
cocaína depois de encantar a juventude com músicas de amor e de elevação da
autoestima do moleque pobre, skatista, de subúrbio mesmo, como o parceiro dele de
banda e grande amigo, o Champignon que se matou ou como o Robin Willians –
eterno Patch Adans que após anos enfrentando vício em cocaína e depressão
resolveu apertar o cinto, só que no pescoço dele. A vida é dura. A vida é muito
dura sem Deus. E eles não pediram ajuda a tempo. Ore pelo Armandinho!
Estar aí no mundo que não é nosso, convencidos e sendo
induzidos a amar as coisas dele –o mundo – não é fácil. Dói ser gente sem o
amor de Cristo. Dói não enxergar o sangue que pingou da cruz. Quando Jesus veio
foi porque Deus queria se aproximar novamente da humanidade após um período de
violência e atrocidades. Mas a religiosidade ajudou a manter afastado de Deus
muito pecador por aí que já poderia ter se arrependido, renunciado o prazer do
mundo mas ficou excluído da graça por que humanos se acham mais humanos. Vejo
gente com sede de Deus. Vejo gente tentando matar essa sede num gole só de
álcool e drogas, de uma noite de intensidades e um dia seguinte de uma
depressão tão profunda como eu vivia, muitas vezes dia após dia e que faz de
conta e até acredita que está tudo bem. Pessoas que não conseguem mais sorrir
ou suportar as coisas se não for pela expectativa de que a noite vai chegar e
abrem-se as portas de um submundo, um mundo particular sem chatices, sem alguém
apontando você porque aí, naquelas horas são todos iguais, estão todos na
mesma, estão em casa. Só que aquelas horas acabam e até que recomecem tem um
dia inteiro de inferno. Conviver com a embriaguez de tudo é conviver também com
a abstinência, com o fim do prazer, coma fissura que faz as pessoas depois,
sóbrias, se envergonharem do que são capazes de fazer a si mesmas.
Julgar dependentes de álcool e drogas –seja qual for,
inclusive cigarro – é não saber nada da vida. Especialmente cristãos e cristãs
devem ter mãos e corações estendidos a estas pessoas – eu já fui uma delas.
Você que julga, você não sabe nada! Precisamos espalhar a
mensagem do evangelho, do amor, do temor (sim, precisamos temer Deus mesmo que
Ele nos perdoe e nos ame em sua infinita misericórdia), precisamos falar que a
salvação é real e é a maiooooor viagem, é a melhor embriaguez!
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